Você vai embora e leva um pedaço de mim
numa quentinha pra comer mais tarde.
A luz do nascente que invade o meu quarto
ilumina o pedaço de mim arrancado,
banhado no molho pardo do sangue
que há pouco corria em minhas veias
até desaguar em sua boca que o sorvia.
E eu ria, eu ria, eu ria,
enquanto você canibalesco se fartava
do banquete que eu te oferecia;
enquanto você, obstinado e doente,
cego e abstinente do meu corpo,
me comia.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Blues cotidiano
Escovo os dentes no banho. Choro embaixo do chuveiro pra esconder as lágrimas de mim mesma. A mistura de ressaca com tpm é quase sempre indigesta... talvez amanhã o mundo volte aos eixos, talvez não, quem sabe?... maldita moral, maldita culpa. Um dia aprendo a viver sem (quando?)... Meto a tesoura nos cabelos, terapia eficaz.
Pausa pro café. Cafeinômana, duas xícaras, açúcar e vapor, mais um pouco de açúcar, glicose é afago pra alma. Momento suspenso no fio do tempo... momento de sentar no chão da varanda lateral e observar o casarão vermelho imponente no alto do morro, bebericando devagar o café doce/amargo.
Em cima da hora acabo vestindo a saia guarda-chuva que levanta com o vento. Na rua, ventania pré-tempestade, revoada de folhas, algazarra do ar em movimento, e a minha bunda de fora na porta do banco, apertando inutilmente a droga do botão com uma mão, empurrando a porta com a outra, tarde demais pra evitar a gargalhada dos moleques que passam...
Chove e eu choro embaixo da chuva só pra não perder o hábito de brincar de esconde-esconde. Ao menos a ventania parou, e a saia vai continuar no lugar até eu me distrair e passar em cima de um desses bueiros que sopram de baixo um ventinho intermitente.
Refúgio na livraria. Fugindo da chuva , do aperto no peito e da abstinência de cafeína, bebo o café em golinhos calculados, minúsculos, pensamentos tolos, planos de dominação do mundo, um livro do Fernando Pessoa. um pouco de saudade de alguém do outro lado do mundo...
Quando vejo que a chuva apertou eu saio. Saio e deixo a chuva levar de enxurrada os pensamentos tolos, os planos infalíveis, um restinho de culpa, leva a saudade chuva!; não, não levo. Pensando bem, até que essa saudade é boa de ter, através dela ele visita meus sonhos onde passeamos lentamente por um boulevard parisiense (nunca estive em Paris, mas no sonho ele me mostra como é...), ou tomamos café no foyer do CCBB e rimos destilando rabugices, ironias, devaneios e demências...
Molhada, a saia que antes queria voar se cola ao meu corpo, e o sentido do tato sobrepõe-se aos outros graças a esse contato, eu corro mas não quero mais fugir, correr apenas ponto. Pra um lugar que não existe porque ainda não foi inventado. Ainda não foi inventando lugar onde caibam meus sonhos, meu desejo de liberdade, meu desejo de delírio, meus desejos todos enfim, meu Desejo que é um deus sem templo a habitar.
Abro a porta de casa, me dispo das roupas encharcadas e dos devaneios fortuitos, devia sentir frio mas meu corpo queima, entro no banho, escovo os dentes, choro.
Bebo o café mais amargo do dia e mergulho na profunda nostalgia que habita as tardes filminho-edredom...
Pausa pro café. Cafeinômana, duas xícaras, açúcar e vapor, mais um pouco de açúcar, glicose é afago pra alma. Momento suspenso no fio do tempo... momento de sentar no chão da varanda lateral e observar o casarão vermelho imponente no alto do morro, bebericando devagar o café doce/amargo.
Em cima da hora acabo vestindo a saia guarda-chuva que levanta com o vento. Na rua, ventania pré-tempestade, revoada de folhas, algazarra do ar em movimento, e a minha bunda de fora na porta do banco, apertando inutilmente a droga do botão com uma mão, empurrando a porta com a outra, tarde demais pra evitar a gargalhada dos moleques que passam...
Chove e eu choro embaixo da chuva só pra não perder o hábito de brincar de esconde-esconde. Ao menos a ventania parou, e a saia vai continuar no lugar até eu me distrair e passar em cima de um desses bueiros que sopram de baixo um ventinho intermitente.
Refúgio na livraria. Fugindo da chuva , do aperto no peito e da abstinência de cafeína, bebo o café em golinhos calculados, minúsculos, pensamentos tolos, planos de dominação do mundo, um livro do Fernando Pessoa. um pouco de saudade de alguém do outro lado do mundo...
Quando vejo que a chuva apertou eu saio. Saio e deixo a chuva levar de enxurrada os pensamentos tolos, os planos infalíveis, um restinho de culpa, leva a saudade chuva!; não, não levo. Pensando bem, até que essa saudade é boa de ter, através dela ele visita meus sonhos onde passeamos lentamente por um boulevard parisiense (nunca estive em Paris, mas no sonho ele me mostra como é...), ou tomamos café no foyer do CCBB e rimos destilando rabugices, ironias, devaneios e demências...
Molhada, a saia que antes queria voar se cola ao meu corpo, e o sentido do tato sobrepõe-se aos outros graças a esse contato, eu corro mas não quero mais fugir, correr apenas ponto. Pra um lugar que não existe porque ainda não foi inventado. Ainda não foi inventando lugar onde caibam meus sonhos, meu desejo de liberdade, meu desejo de delírio, meus desejos todos enfim, meu Desejo que é um deus sem templo a habitar.
Abro a porta de casa, me dispo das roupas encharcadas e dos devaneios fortuitos, devia sentir frio mas meu corpo queima, entro no banho, escovo os dentes, choro.
Bebo o café mais amargo do dia e mergulho na profunda nostalgia que habita as tardes filminho-edredom...
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Quatro bêbados
Somos quatro bêbados, eu, ela, ele, ela. A música da velha juke box soa onírica, talvez porque venha de um passado distante - custa-lhe atravessar a borda do tempo. Às vezes ponho moedas e desejo algo mais que a melodia suja arranhada no vinil da vitrola. Desejo um pedaço dele, ele um pedaço dela, ela um pedaço dele, ele um pedaço de mim. Nossa roda ciranda etílica quase sempre ensandesce e termina e começa e rodando a minha cabeça não consegue mais fixar os olhos dele e para nos dela e volta pros dele e acaba nos dela novamente... São castanho-claro-verde-embotados. São raros.
Ele acende um cigarro, traga, eu tomo um trago, ela bebe um copo, ele canta junto a melodia ancestral, eu também canto, eu sempre canto, todos cantamos quando estamos bêbados, todos cantamos agora.
Só quem escuta é Seu Osvaldo, que trouxe a juke box de um passado remoto e instalou aqui ao lado da cozinha, pra alegria dos bêbados, pra alegria das putas, pra alegria dos cães, pra nossa alegria, lentamente embalada ao som das notas espalhadas, esparramadas em nossos corpos que se esbarram e se tocam movidos unicamente pela certeza de estarem fadados ao máximo possível de união permitida aos seres de carne, sangue e sonhos quentes. Seu Osvaldo é testemunha ocular do momento exato em que somos arrebatados, confiamos nele. Somos foragidos do mundo-de-fora tentando esquivar-nos de fios débeis de sol que escorrem através das fendas miúdas da janela fechada. Somos quatro bêbados tentando ser um, tentando ser três, tentando ser dois, voltando a ser quatro... eu, ele, ela, ele, não necessariamente nessa ordem, nesse tempo, nesse espaço. Somos som, movimento, somos fúrias, tesão, somos o momento em que o objeto lançado ao alto pára suspenso por um fio invisível preso ao infinito, somos a soma de inúmeras frações de desejos varridos pra debaixo do tapete das almas ao longo dos séculos.
Somos tudo isso, ao mesmo tempo, agora, sempre. Fomos, somos e seremos a república etílica-onírica da juke box. Um não-lugar num tempo-espaço que existe apenas quando a música toca e nós a habitamos. Bebemos, cantamos e dançamos unidos pelos laços da sagrada bebedeira sacramentados por Seu Osvaldo, que abastece nossos sonhos com mais uma saideira, desejando espertamente que a fonte nunca seque. Mesmo que o sol já vá alto lá fora, quatro bêbados brindamos, eu, ele, ela, ele. Mais uma moeda, por favor, the show must go on.
Ele acende um cigarro, traga, eu tomo um trago, ela bebe um copo, ele canta junto a melodia ancestral, eu também canto, eu sempre canto, todos cantamos quando estamos bêbados, todos cantamos agora.
Só quem escuta é Seu Osvaldo, que trouxe a juke box de um passado remoto e instalou aqui ao lado da cozinha, pra alegria dos bêbados, pra alegria das putas, pra alegria dos cães, pra nossa alegria, lentamente embalada ao som das notas espalhadas, esparramadas em nossos corpos que se esbarram e se tocam movidos unicamente pela certeza de estarem fadados ao máximo possível de união permitida aos seres de carne, sangue e sonhos quentes. Seu Osvaldo é testemunha ocular do momento exato em que somos arrebatados, confiamos nele. Somos foragidos do mundo-de-fora tentando esquivar-nos de fios débeis de sol que escorrem através das fendas miúdas da janela fechada. Somos quatro bêbados tentando ser um, tentando ser três, tentando ser dois, voltando a ser quatro... eu, ele, ela, ele, não necessariamente nessa ordem, nesse tempo, nesse espaço. Somos som, movimento, somos fúrias, tesão, somos o momento em que o objeto lançado ao alto pára suspenso por um fio invisível preso ao infinito, somos a soma de inúmeras frações de desejos varridos pra debaixo do tapete das almas ao longo dos séculos.
Somos tudo isso, ao mesmo tempo, agora, sempre. Fomos, somos e seremos a república etílica-onírica da juke box. Um não-lugar num tempo-espaço que existe apenas quando a música toca e nós a habitamos. Bebemos, cantamos e dançamos unidos pelos laços da sagrada bebedeira sacramentados por Seu Osvaldo, que abastece nossos sonhos com mais uma saideira, desejando espertamente que a fonte nunca seque. Mesmo que o sol já vá alto lá fora, quatro bêbados brindamos, eu, ele, ela, ele. Mais uma moeda, por favor, the show must go on.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Cinza e pó
O momento de olhar praquilo tudo e perceber que quase nada se distingue em meio à massa disforme, carbonizada. Quase tudo cinza e pó. Pequenos vestígios de plástico retorcidos formam estranhas esculturas, desafiando minha memória que insiste na tentativa quase sempre vã de recordar estes objetos em sua forma original. A ação do calor sobre o plástico é estranha e devastadora, mas olhando agora pra restos de pratos de acrílico e potinhos "tupperware", ouso dizer que é bela. Assustadora, mas terrivelmente bela. Penso em guardar os restos destes objetos, souvenirs macabros. Imagino que dariam uma boa instalação. Sempre tive uma queda pela arte contemporânea. Qualquer um pode ser artista. Por que não eu? Verdade que sempre fui um reles vendedor de banca de jornal do centro da cidade. Vocês podem até achar legal esse papo de ter todas as notícias do mundo ali, à mão. Mas o fato é que você se cansa. Cansa de tanto acesso à informação. Não quer mais ler aquele monte de notícias manipuladas. Um dia viro artista de vez, tenho meia dúzia de idéias que acho que podem colar. Uns lances com vídeo-arte...
Na verdade cheguei tarde demais. Os bombeiros já estiveram aqui, apagaram o fogo. E a perícia chegou surpreendentemente rápido, analisando todos os vestígios. Se conseguiram encontrar alguma possível prova das causas do suposto acidente, a esta altura já estão lá, preparando seus laudos. Tive medo de me aproximar demais, de ter de encarar a cena que encaro agora, remexendo nos escombros enegrecidos até ficar coberto eu mesmo por um pó preto que se gruda à minha pele de forma aparentemente ireversível. A imagem do caos em que se transformou sua casa imprime-se em minhas retinas irritadas. E você, ou o que quer que possa ter sobrado de você, não está aqui. Devem tê-la levado, sem deixar para mim sequer um farrapo de vestido queimado. Era algo que eu gostaria de guardar. Como lembrança.
Lembrança desta noite. Daquele vestido verde decotado que sempre que você usava eu ficava com uma vontade louca de te comer. Você sabia disso e vestia ele de propósito toda vez que queria me chantagear. Você nunca valeu mesmo o prato que comia, não passava de uma vadia peituda que sabia exatamante o que fazer para manipular os homens, como sempre fez com todos os outros antes de mim.
Você abriu a porta e me encarou com aquele seu olhar vazio de estátua grega. Me emputeci na hora. Me convidou pra entrar. Estava tomando uma taça de vinho. Aceitei a taça que você me ofereceu, sentando no sofá e olhando pros seus peitos. Visão que, junto com a primeiro gole do vinho, ajudou a arrefecer a raiva que eu sentia.
"Cê sabe que eu faço tudo por você", comecei."Até mesmo me despencar até aqui às duas da manhã."
"Sei. Sempre foi assim, né? Eu chamo e você vem..." (Você tentou, sem sucesso, imprimir um ar de descontração ao comentário...)
"Pois então. Seu servo mais fiel está aqui novamente. O que você tem pra me dizer que não pode esperar até a luz do dia?"
"Vou embora. Meu vôo sai às sete."
"Brasília?" retruquei, já adivinhando, "vai voltar praquele filho-da-puta?"
"Sei que é difícil pra você entender... mas estou ligada a ele por laços maiores do que os estabelecidos pelas relações humanas. É um lance cármico, sabe? Agora tenho certeza..."
"Mas esse cara quase te matou!" (falei isso ainda sussurrando, tentando processar o absurdo do que você acabava de me dizer) "Cê saiu de lá, largou família e um bom cargo no governo pra fugir desse sacana! Que papo é esse de 'lance cármico'?"
"Querido, Madame Cileide confirmou tudo! Eu e Clécio temos pendências de outras vidas pra resolver."
"Como é que você pode acreditar nessa merda? Uma pessoa como você, filha de desembargador poderoso em Brasília, que estudou nos melhores colégios, formada em direito... Só falta me dizer agora que foi abduzida e tá grávida de um ET!!!" (a essa altura eu já estava gritando...)
"Por isso nunca quis te contar. Porque sabia que você não me levaria a sério... Ficaria aí com esse seu jeito, fazendo piadinhas de mau-gosto..."
Esse foi o momento da explosão. Parti pra cima com tudo. Eu estava decidido a te segurar aqui, nem que pra isso precisasse te amarrar ao pé da mesa. Você correu e se trancou no banheiro, choramingando e me chamando de covarde, canalha, escroto, e mais um punhado de adjetivos tão carinhosos quanto.
Passei pela cozinha e fui até a área de serviço, procurando algo que eu pudesse usar pra te amarrar. Se você insistisse em ficar trancada no banheiro eu arrombava a porta e pronto. Te amarrava lá mesmo. Ouvi um grito, me virei e vi você ali parada na porta da cozinha.
"Eu nunca te amei, imbecil. Era tudo fingimento. Usei você enquanto serviu aos meus propósitos, e agora te descarto porque não me serve mais. Você não passa de um fracassado com delírios de grandeza! Como você pode achar que eu ia me apaixonar por um vendedorzinho de banca de revista! Eu te odeio, você é um lixo..."
Enquanto você continuava desfiando este rosário de elogios rasgados à minha pessoa, meus olhos pousaram por alguns segundos sobre a caixa de fóforos que repousava na pia, ao lado do fogão. Me lembrei de ter visto uma garrafa de álcool embaixo do tanque. Enquanto você ainda gritava, agarrei a garrafinha branca, e com ela na mão fui até a pia da cozinha em busca dos fósforos. Você se calou de repente quando eu joguei um bocado de álcool bem no meio do seu rosto, molhando a pele macia de princesa que você tinha. Você voltou a gritar e me xingar, sem conseguir abrir os olhos. Olhei pros seus peitos saltando do decote. Acho que suspirei.
"Te amo, Lúcia."
Risquei o fósforo.
Na verdade cheguei tarde demais. Os bombeiros já estiveram aqui, apagaram o fogo. E a perícia chegou surpreendentemente rápido, analisando todos os vestígios. Se conseguiram encontrar alguma possível prova das causas do suposto acidente, a esta altura já estão lá, preparando seus laudos. Tive medo de me aproximar demais, de ter de encarar a cena que encaro agora, remexendo nos escombros enegrecidos até ficar coberto eu mesmo por um pó preto que se gruda à minha pele de forma aparentemente ireversível. A imagem do caos em que se transformou sua casa imprime-se em minhas retinas irritadas. E você, ou o que quer que possa ter sobrado de você, não está aqui. Devem tê-la levado, sem deixar para mim sequer um farrapo de vestido queimado. Era algo que eu gostaria de guardar. Como lembrança.
Lembrança desta noite. Daquele vestido verde decotado que sempre que você usava eu ficava com uma vontade louca de te comer. Você sabia disso e vestia ele de propósito toda vez que queria me chantagear. Você nunca valeu mesmo o prato que comia, não passava de uma vadia peituda que sabia exatamante o que fazer para manipular os homens, como sempre fez com todos os outros antes de mim.
Você abriu a porta e me encarou com aquele seu olhar vazio de estátua grega. Me emputeci na hora. Me convidou pra entrar. Estava tomando uma taça de vinho. Aceitei a taça que você me ofereceu, sentando no sofá e olhando pros seus peitos. Visão que, junto com a primeiro gole do vinho, ajudou a arrefecer a raiva que eu sentia.
"Cê sabe que eu faço tudo por você", comecei."Até mesmo me despencar até aqui às duas da manhã."
"Sei. Sempre foi assim, né? Eu chamo e você vem..." (Você tentou, sem sucesso, imprimir um ar de descontração ao comentário...)
"Pois então. Seu servo mais fiel está aqui novamente. O que você tem pra me dizer que não pode esperar até a luz do dia?"
"Vou embora. Meu vôo sai às sete."
"Brasília?" retruquei, já adivinhando, "vai voltar praquele filho-da-puta?"
"Sei que é difícil pra você entender... mas estou ligada a ele por laços maiores do que os estabelecidos pelas relações humanas. É um lance cármico, sabe? Agora tenho certeza..."
"Mas esse cara quase te matou!" (falei isso ainda sussurrando, tentando processar o absurdo do que você acabava de me dizer) "Cê saiu de lá, largou família e um bom cargo no governo pra fugir desse sacana! Que papo é esse de 'lance cármico'?"
"Querido, Madame Cileide confirmou tudo! Eu e Clécio temos pendências de outras vidas pra resolver."
"Como é que você pode acreditar nessa merda? Uma pessoa como você, filha de desembargador poderoso em Brasília, que estudou nos melhores colégios, formada em direito... Só falta me dizer agora que foi abduzida e tá grávida de um ET!!!" (a essa altura eu já estava gritando...)
"Por isso nunca quis te contar. Porque sabia que você não me levaria a sério... Ficaria aí com esse seu jeito, fazendo piadinhas de mau-gosto..."
Esse foi o momento da explosão. Parti pra cima com tudo. Eu estava decidido a te segurar aqui, nem que pra isso precisasse te amarrar ao pé da mesa. Você correu e se trancou no banheiro, choramingando e me chamando de covarde, canalha, escroto, e mais um punhado de adjetivos tão carinhosos quanto.
Passei pela cozinha e fui até a área de serviço, procurando algo que eu pudesse usar pra te amarrar. Se você insistisse em ficar trancada no banheiro eu arrombava a porta e pronto. Te amarrava lá mesmo. Ouvi um grito, me virei e vi você ali parada na porta da cozinha.
"Eu nunca te amei, imbecil. Era tudo fingimento. Usei você enquanto serviu aos meus propósitos, e agora te descarto porque não me serve mais. Você não passa de um fracassado com delírios de grandeza! Como você pode achar que eu ia me apaixonar por um vendedorzinho de banca de revista! Eu te odeio, você é um lixo..."
Enquanto você continuava desfiando este rosário de elogios rasgados à minha pessoa, meus olhos pousaram por alguns segundos sobre a caixa de fóforos que repousava na pia, ao lado do fogão. Me lembrei de ter visto uma garrafa de álcool embaixo do tanque. Enquanto você ainda gritava, agarrei a garrafinha branca, e com ela na mão fui até a pia da cozinha em busca dos fósforos. Você se calou de repente quando eu joguei um bocado de álcool bem no meio do seu rosto, molhando a pele macia de princesa que você tinha. Você voltou a gritar e me xingar, sem conseguir abrir os olhos. Olhei pros seus peitos saltando do decote. Acho que suspirei.
"Te amo, Lúcia."
Risquei o fósforo.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Quem quer ser Gisele?
Ouvi falar de um ônibus que anda circulando nas noites de Chaotic City. Dizem que é um ônibus da linha 434, Grajaú-Leblon. Mas que também pode ser da linha 107, Central-Urca. A única coisa que se sabe com certeza é que todos que pegam este ônibus transformam-se em Gisele Bündchen. Pagam a passagem, passam pela roleta, e PUF! : Gisele Bündchen. Seguem ônibus adentro, rebolando as cadeiras. Homens, mulheres, crianças, anões... ninguém escapa.
Ouvi comentários de que Gisele tem sido vista em lugares improváveis. Atrás do caixa de um supermercado. Dirigindo um táxi. Esfregando o chão do Miguel Couto. Comendo pastel no Saara.
Especula-se que tudo isso faça parte de um plano colocado em prática por uma organização fundamentalista anti-humanidade, como forma de promover o fim definitivo da espécie humana. Este ônibus seria, portanto, o primeiro de muitos. Um test drive para verificar a eficácia da experiência. Afinal, segundo palavras supostamente ditas pelo próprio líder da tal organização, Giseles seriam incapazes de procriar entre si e, portanto, de gerar descendentes pra continuar perpetuando a espécie. Hum...Particularmente tenho minhas dúvidas. Dia desses assisti a um documentário sobre escorpiões no National Geographic. Descobri que há uma raça de escorpiões onde todos os indivíduos são fêmeas. Estava tão interessante que eu dormi e perdi a parte que explicava como, mas o fato é que elas se reproduzem. E muito. E se Gisele Bündchen for uma parente distante das escorpiãs de Lesbos? Daí os planos do líder funadmentalista amti-humanidade não só iriam por água abaixo, como dariam origem a uma nova espécie de seres humanos saradona e turbinada, com incrível capacidade de auto-reprodução! Assustador... Ele teria, inclusive, se defendido publicando um manifesto - ao qual, que fique bem claro, não tive acesso, apenas ouvi falar, à boca miúda - onde declarava, dentre outras coisas, que sua única intenção é acelerar o processo de auto-destruição já iniciado pela própria humanidade...
Há quem diga que não é nada disso. Que tal hipótese não passa de teoria de conspiração, delírio de gente paranóica. Supõem que o fenômeno do ônibus transformador de gente comum em Giseles Bündchens seja fruto da mente doentia de um velho cientista nazista, que vinha trabalhando às escondidas desde o fim da Segunda Guerra num projeto mirabolante cujo objetivo seria o de trazer mais beleza à humanidade através da uniformização radical. Comenta-se que, segundo o tal cientista, a diversidade, a mistura, estariam na raiz de um suposto "enfeiamento" cada vez maior dos seres humanos. Quem já ouviu falar das teorias dele costuma dizer que ele as defende com unhas e dentes em um brilhante tratado intitulado "Em Defesa da Uniformidade do Belo", onde ele enumera as vantagens políticas e econômicas da uniformização do ser humano em indivíduos de igual beleza, tamanho, forma e docilidade. Ah, e que ele teria desenvolvido um meio de reprodução assexuada das Giseles. Afinal de contas, sexo é uma coisa atrasada e contra-producente, que só serve pra atrapalhar a jornada do ser humano rumo a um futuro brilhante.
Na dúvida entre acreditar em uma ou outra teoria, prefiro acreditar nas duas. E por via das dúvidas evito o ônibus de madrugada. Mas fica a critério de cada um o próprio destino. Você pode querer continuar sendo você mesmo. Ou não.
Ouvi comentários de que Gisele tem sido vista em lugares improváveis. Atrás do caixa de um supermercado. Dirigindo um táxi. Esfregando o chão do Miguel Couto. Comendo pastel no Saara.
Especula-se que tudo isso faça parte de um plano colocado em prática por uma organização fundamentalista anti-humanidade, como forma de promover o fim definitivo da espécie humana. Este ônibus seria, portanto, o primeiro de muitos. Um test drive para verificar a eficácia da experiência. Afinal, segundo palavras supostamente ditas pelo próprio líder da tal organização, Giseles seriam incapazes de procriar entre si e, portanto, de gerar descendentes pra continuar perpetuando a espécie. Hum...Particularmente tenho minhas dúvidas. Dia desses assisti a um documentário sobre escorpiões no National Geographic. Descobri que há uma raça de escorpiões onde todos os indivíduos são fêmeas. Estava tão interessante que eu dormi e perdi a parte que explicava como, mas o fato é que elas se reproduzem. E muito. E se Gisele Bündchen for uma parente distante das escorpiãs de Lesbos? Daí os planos do líder funadmentalista amti-humanidade não só iriam por água abaixo, como dariam origem a uma nova espécie de seres humanos saradona e turbinada, com incrível capacidade de auto-reprodução! Assustador... Ele teria, inclusive, se defendido publicando um manifesto - ao qual, que fique bem claro, não tive acesso, apenas ouvi falar, à boca miúda - onde declarava, dentre outras coisas, que sua única intenção é acelerar o processo de auto-destruição já iniciado pela própria humanidade...
Há quem diga que não é nada disso. Que tal hipótese não passa de teoria de conspiração, delírio de gente paranóica. Supõem que o fenômeno do ônibus transformador de gente comum em Giseles Bündchens seja fruto da mente doentia de um velho cientista nazista, que vinha trabalhando às escondidas desde o fim da Segunda Guerra num projeto mirabolante cujo objetivo seria o de trazer mais beleza à humanidade através da uniformização radical. Comenta-se que, segundo o tal cientista, a diversidade, a mistura, estariam na raiz de um suposto "enfeiamento" cada vez maior dos seres humanos. Quem já ouviu falar das teorias dele costuma dizer que ele as defende com unhas e dentes em um brilhante tratado intitulado "Em Defesa da Uniformidade do Belo", onde ele enumera as vantagens políticas e econômicas da uniformização do ser humano em indivíduos de igual beleza, tamanho, forma e docilidade. Ah, e que ele teria desenvolvido um meio de reprodução assexuada das Giseles. Afinal de contas, sexo é uma coisa atrasada e contra-producente, que só serve pra atrapalhar a jornada do ser humano rumo a um futuro brilhante.
Na dúvida entre acreditar em uma ou outra teoria, prefiro acreditar nas duas. E por via das dúvidas evito o ônibus de madrugada. Mas fica a critério de cada um o próprio destino. Você pode querer continuar sendo você mesmo. Ou não.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
De Madrugada
De madrugada escrevo.
De dia faço quase nada...
leio hqs e livros que eu já li,
durmo em frente à tv,
como comida congelada
abençoada por santas microondas.
De madrugada
sacudo um pouco do torpor
para fora do meu corpo,
faço pequenas ranhuras
no invólucro da letargia,
e despejo palavras
sobre páginas vazias...
De dia faço quase nada...
leio hqs e livros que eu já li,
durmo em frente à tv,
como comida congelada
abençoada por santas microondas.
De madrugada
sacudo um pouco do torpor
para fora do meu corpo,
faço pequenas ranhuras
no invólucro da letargia,
e despejo palavras
sobre páginas vazias...
terça-feira, 8 de julho de 2008
Quanto mais nos comunicamos
Mais nos desentendemos
Quanto mais nos desentendemos
Mais nos detestamos
Quanto mais nos detestamos
Mais nos destruimos
Quanto mais nos destruimos
Mais aumenta o consenso entre os sábios de Andrômeda e Alfa Centauro
De que não passamos de um bando de idiotas.
(em homenagem a Douglas Adams, autor do Guia do Mochileiro das Galáxias - não saia da Terra sem ele!)
Mais nos desentendemos
Quanto mais nos desentendemos
Mais nos detestamos
Quanto mais nos detestamos
Mais nos destruimos
Quanto mais nos destruimos
Mais aumenta o consenso entre os sábios de Andrômeda e Alfa Centauro
De que não passamos de um bando de idiotas.
(em homenagem a Douglas Adams, autor do Guia do Mochileiro das Galáxias - não saia da Terra sem ele!)
quarta-feira, 2 de julho de 2008
" É Melhor ser surdo do que ouvir isso!" - Fragmentos
# Para quem achava que conhecia o medo...Som ouvido num boteco do Rio Comprido: a música Pica-pau, aquela dos tempos da Jovem Guarda, em ritmo de... pagode!!!
É inimaginável, só ouvindo mesmo pra alcançar a plenitude medonha da coisa.
# A televisão é território vastíssimo da ignorância e baboseira, verdadeira porta-voz (e propagadora) do velho "febeapá" do Stanislaw - festival de besteiras que assola o país... (e fica cada vez maior). Dia desses tive que aturar aquela galera fascista do MV-Brasil defendendo em entrevista a volta do ensino de MORAL E CÍVICA nas escolas. Ainda bem que a gente não precisa levar muito a sério um grupo que espalha cartazes onde se lê: "halloween é bruxaria". Hahahahahahaha!!! Ufa, então tudo não basta de uma grande piada!
Por outro lado,não há nada mais proveitoso do que passar uma tarde assistindo a programas de televendas. Todos aqueles produtos lindos e súper úteis! Como pude viver até agora sem uma escada que vira bancada? Sem falar na essencial máquina de cortar batata em cubinhos!! Iurrúlll!!! Dia desses tava assistindo a um desses programas, que vendia um remédio milagroso - e super confiável - para emagrecer. Lá pelas tantas fui premiada pela apresentadora loura peituda e obviamente intelectual com a seguinte pérola: " Depois que você toma o Slim-qualquercoisa você se sente satisfeito, sente uma saciez..." Peraí!!! Saciez? Até onde eu sei o termo correto seria "saciedade". Mas sabe quando você começa a duvidar um pouquinho de si mesmo?, pensei: "hum, talvez o termo saciez também possa ser usado nesse caso, e eu tô aqui julgando mal a pobre loira peituda...". Pra tirar a teima busquei o oráculo da pós-medernidade, vulgo Google. Digitei a palavra e esperei. Resposta do Google: "Você quis dizer maciez". Bom, então tá, essa palavra não existe mesmo. Talvez ela tenha querido dizer maciez.
É inimaginável, só ouvindo mesmo pra alcançar a plenitude medonha da coisa.
# A televisão é território vastíssimo da ignorância e baboseira, verdadeira porta-voz (e propagadora) do velho "febeapá" do Stanislaw - festival de besteiras que assola o país... (e fica cada vez maior). Dia desses tive que aturar aquela galera fascista do MV-Brasil defendendo em entrevista a volta do ensino de MORAL E CÍVICA nas escolas. Ainda bem que a gente não precisa levar muito a sério um grupo que espalha cartazes onde se lê: "halloween é bruxaria". Hahahahahahaha!!! Ufa, então tudo não basta de uma grande piada!
Por outro lado,não há nada mais proveitoso do que passar uma tarde assistindo a programas de televendas. Todos aqueles produtos lindos e súper úteis! Como pude viver até agora sem uma escada que vira bancada? Sem falar na essencial máquina de cortar batata em cubinhos!! Iurrúlll!!! Dia desses tava assistindo a um desses programas, que vendia um remédio milagroso - e super confiável - para emagrecer. Lá pelas tantas fui premiada pela apresentadora loura peituda e obviamente intelectual com a seguinte pérola: " Depois que você toma o Slim-qualquercoisa você se sente satisfeito, sente uma saciez..." Peraí!!! Saciez? Até onde eu sei o termo correto seria "saciedade". Mas sabe quando você começa a duvidar um pouquinho de si mesmo?, pensei: "hum, talvez o termo saciez também possa ser usado nesse caso, e eu tô aqui julgando mal a pobre loira peituda...". Pra tirar a teima busquei o oráculo da pós-medernidade, vulgo Google. Digitei a palavra e esperei. Resposta do Google: "Você quis dizer maciez". Bom, então tá, essa palavra não existe mesmo. Talvez ela tenha querido dizer maciez.
terça-feira, 24 de junho de 2008
Chaotic City News
Bem-vindo ao noticiário das seis horas de Chaotic City! Abaixo os destaques da noite:
# Trãnsito parado na Perimetral, na Ponte Rio-Niterói, Praça da Bandeira, Presidente Vargas, Paulo de Frontin, Viaduto do Gasômetro, Pinheiro Machado, São Clemente... Tudo bem, quem mora em Chaotic City não tem pressa de chegar a lugar algum mesmo...
# Ônibus mais desgovernado que o Brasil na época do carnaval invade estacionamento.
# Homem escapa de morrer queimado por traficantes por tentar roubar uma bolsa na favela. A polícia o encontrou a tempo, mas ele foi preso por já ter antecedentes criminais. A mãe declara ao ser entrevistada: "é melhor que ele fique preso mesmo."
# Policial é sequestrado e assassinado na Pavuna. Comandante do batalhão diz que a morte não foi encomendada, e sim uma fatalidade. OK. Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Saci Pererê também acham.
# Após sequestro que culminou na morte de três rapazes praticada por soldados e um oficial semana passada, decisão judicial obriga o exército a deixar o Morro da Providência, sendo substtuído pela nossa sempre cordial Polícia Militar. A troca certamente deixa os moradores da favela muito aliviados, com a certeza de que poderão dormir tranquilos.
# Presidente Lula aprova Projeto de Lei que prevê indenização para as famílias dos três rapazes assassinados. Indenização esta que virá acompanhada de uma carta dizendo: "Aí, minha gente, foi malzão mesmo! Mas tudo bem, vamos embolsar essa graninha e não se fala mais nisso né?..."
# Tentativa de assalto termina em tiroteio no Caju. Duas pessoas morrem. O lado bom é que já morreram perto do cemitério.
# Acidentes no trânsito: Ônibus bate em pilastra na Zona Norte. 18 feridos./ Acidente envolvendo ônibus e van em alta velocidade mata 2 e deixa 12 feridos na Zona Oeste./ 2 acidentes graves na Linha Amarela. O segundo aconteceu porque o motorista se distraiu olhando o primeiro.
# Chacina na Baixada. Cinco pessoas mortas em Duque de Caxias. O alvo era um policial. Mas o assassino tava de mau humor e resolveu meter bala em todo mundo que tava por perto.
# Polícia prende quadrilha especializada em roubar remédios pra câncer (!!!)que seriam distribuídos gratuitamente nos postos de saúde (!!!!!!) e revendê-los a preços exorbitantes.
# Last, but not least: O presidente Lula anuncia a liberação de R$ 85 milhões (!!!!!!) para a candidatura da Chaotic City a sede dos Jogos Olímpicos. Uma cidade pacata, tranquila e organizada como essa realmente merece. Verbas para segurança? Educação? Saúde? Pra que, se nós podemos ter Jogos Olímpicos?
# Trãnsito parado na Perimetral, na Ponte Rio-Niterói, Praça da Bandeira, Presidente Vargas, Paulo de Frontin, Viaduto do Gasômetro, Pinheiro Machado, São Clemente... Tudo bem, quem mora em Chaotic City não tem pressa de chegar a lugar algum mesmo...
# Ônibus mais desgovernado que o Brasil na época do carnaval invade estacionamento.
# Homem escapa de morrer queimado por traficantes por tentar roubar uma bolsa na favela. A polícia o encontrou a tempo, mas ele foi preso por já ter antecedentes criminais. A mãe declara ao ser entrevistada: "é melhor que ele fique preso mesmo."
# Policial é sequestrado e assassinado na Pavuna. Comandante do batalhão diz que a morte não foi encomendada, e sim uma fatalidade. OK. Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Saci Pererê também acham.
# Após sequestro que culminou na morte de três rapazes praticada por soldados e um oficial semana passada, decisão judicial obriga o exército a deixar o Morro da Providência, sendo substtuído pela nossa sempre cordial Polícia Militar. A troca certamente deixa os moradores da favela muito aliviados, com a certeza de que poderão dormir tranquilos.
# Presidente Lula aprova Projeto de Lei que prevê indenização para as famílias dos três rapazes assassinados. Indenização esta que virá acompanhada de uma carta dizendo: "Aí, minha gente, foi malzão mesmo! Mas tudo bem, vamos embolsar essa graninha e não se fala mais nisso né?..."
# Tentativa de assalto termina em tiroteio no Caju. Duas pessoas morrem. O lado bom é que já morreram perto do cemitério.
# Acidentes no trânsito: Ônibus bate em pilastra na Zona Norte. 18 feridos./ Acidente envolvendo ônibus e van em alta velocidade mata 2 e deixa 12 feridos na Zona Oeste./ 2 acidentes graves na Linha Amarela. O segundo aconteceu porque o motorista se distraiu olhando o primeiro.
# Chacina na Baixada. Cinco pessoas mortas em Duque de Caxias. O alvo era um policial. Mas o assassino tava de mau humor e resolveu meter bala em todo mundo que tava por perto.
# Polícia prende quadrilha especializada em roubar remédios pra câncer (!!!)que seriam distribuídos gratuitamente nos postos de saúde (!!!!!!) e revendê-los a preços exorbitantes.
# Last, but not least: O presidente Lula anuncia a liberação de R$ 85 milhões (!!!!!!) para a candidatura da Chaotic City a sede dos Jogos Olímpicos. Uma cidade pacata, tranquila e organizada como essa realmente merece. Verbas para segurança? Educação? Saúde? Pra que, se nós podemos ter Jogos Olímpicos?
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Fragmentos Niilistas
Fragmento-alienação-pós-moderna:
Viva o evento!
Palavras? Sempre! Ao vento...
* * * *
As palavras, mal-usadas,
De forma leviana,
Tornam cada vez mais enfadonhas
As relações (des)humanas.
* * * *
Sonho-utopia de um amigo:
troquemos nossos carros
por estantes cheias de livros!
* * * *
Quero um olhar supra-sensorial
Para ver através, e além
Do torpor habitual.
(Obs.: se você, assim como eu, revoltou-se com o uso abusivo do hífem neste post, não fique calado! Faça sua denúncia em www.amahífen.com.br)
sábado, 7 de junho de 2008
Tecnicolor
Na frente do espelho percebo
que o esmalte vermelho e o cabelo preto
são os subterfúgios de cor que inventei pra mim
porque me inventaram assim: cabelo claro, unha branca.
Mas o colorama das unhas, wellaton dos cabelos
São pura reinvenção do olhar que quero do mundo.
São o meu jeito de mostrar, na superfície do que sou,
um profundo desejo de recolorir tudo.
Mudo a cor dos cabelos. Mudo o mundo?
Inverto tudo e invento: cabelo vermelho, unhas pretas.
E pronto.
que o esmalte vermelho e o cabelo preto
são os subterfúgios de cor que inventei pra mim
porque me inventaram assim: cabelo claro, unha branca.
Mas o colorama das unhas, wellaton dos cabelos
São pura reinvenção do olhar que quero do mundo.
São o meu jeito de mostrar, na superfície do que sou,
um profundo desejo de recolorir tudo.
Mudo a cor dos cabelos. Mudo o mundo?
Inverto tudo e invento: cabelo vermelho, unhas pretas.
E pronto.
Rapidinhas da Chaotic City
Drummond Volta a Enxergar
Foram repostos essa semana, pela quarta vez, os óculos roubados da estátua do Drummond. Cada nova reposição custa aos cofres públicos R$3000.
Caso sintomático da situação em que se encontra a Chaotic City. Talvez Drummond preferisse ficar sem enxergar nada mesmo...
Promoção e "Pramocinha"
Os ônibus que circulam em Chaotic City (verdadeiros símbolos da civilidade e organização de nossa querida cidade)inovam mais uma vez, criando a "promoção maquiada". Ônibus com ar-condicionado circulam por aí, em pleno pré-inverno, com plaquinhas onde se lê: "Promoção: R$ 2,10". Eba! Promoção! Opa, peraí... R$2,10 é o preço normal da passagem! Quer dizer então que, no inverno, a gente paga o mesmo valor pra sentir três vezes mais frio???
Deve ser porque frio é chique , uma coisa assim meio européia, né?...
Foram repostos essa semana, pela quarta vez, os óculos roubados da estátua do Drummond. Cada nova reposição custa aos cofres públicos R$3000.
Caso sintomático da situação em que se encontra a Chaotic City. Talvez Drummond preferisse ficar sem enxergar nada mesmo...
Promoção e "Pramocinha"
Os ônibus que circulam em Chaotic City (verdadeiros símbolos da civilidade e organização de nossa querida cidade)inovam mais uma vez, criando a "promoção maquiada". Ônibus com ar-condicionado circulam por aí, em pleno pré-inverno, com plaquinhas onde se lê: "Promoção: R$ 2,10". Eba! Promoção! Opa, peraí... R$2,10 é o preço normal da passagem! Quer dizer então que, no inverno, a gente paga o mesmo valor pra sentir três vezes mais frio???
Deve ser porque frio é chique , uma coisa assim meio européia, né?...
sábado, 31 de maio de 2008
Eagle vs Shark - Uma estranha estória de amor
Eagle vs Shark é um filme que não tem uma estória com enredo clássico, cheio de reviravoltas e surpresas, com picos de emoção e suspense, etc, etc. Não tem uma estória empolgante... é um filme sobre pessoas estranhas, com relações idem, que levam uma vida comum (a vida comum É estranha!). Aliás, é da Nova Zelândia que, cá entre nós, é um lugar deveras estranho, terra natal do ornitorrinco e do demônio da Tasmânia...
É um tratado sobre a estranheza sem no entanto ostentar a pretensão de sê-lo; a essência do enredo é de uma simplicidade incrível, até mesmo banal: moça conhece rapaz, se apaixona, começam a namorar, a relação é posta à prova e ela consegue enfim mostrar que seu amor está acima de qualquer obstáculo. Poderia ser a sinopse de uma comédia romântica bem ao estilo hollywoodiano. E Eagle vs Shark até pode ser chamado de comédia romântica: o filme é muito engraçado, mesclando momentos de total escracho com outros onde o humor é sutilmente implícito, e é acima de tudo uma história de amor. Há, no entanto, muito mais que isso em Eagle vs Shark. O melhor da história não é o que está explícito, e sim as mensagens mais ou menos escondidas nas entrelinhas. São elas que verdadeiramente emocionam e produzem questionamentos. Para percebê-las há que se ter apenas o mínimo de sutileza.
A protagonista é Lily, típica "looser", desgrenhada,solitária,tímida e encolhida, que mora com um irmão tão abobalhado quanto ela e tem um empreguinho maçante numa lanchonete fast-food onde tenta inutilmente "se enturmar" com a colega de trabalho popular. Ela se apaixona por Jarrod, sujeito extremamente nerd, arrogante e com tendência a fantasias de auto-exaltação, que trabalha numa loja de brinquedos/locadora. É claro que todo o seu egocentrismo esconde uma tremenda insegurança, que vai se revelando quando ele convence Lily a viajar para sua pequena cidade natal, com o intuito de colocar em prática um plano de vingança contra o valentão da escola, que batia nele quando era criança.
A partir daí, o castelo de cartas de Jarrod vai aos poucos desabando, e todas a suas neuroses vêm à tona enquanto nos confrontamos com sua família e seu passado, como o fantasma do irmão morto, por exemplo, que era campeão em tudo e idolatrado pelo pai, que praticamente ignora sua existência. Fica claro o que já era presumível: por trás de toda a arrogância, Jarrod é um sujeito profundamente frustrado, que apenas finje se considerar o último biscoito do pacote.
Lily, por outra lado, aceita as chatices mal-criadas de Jarrod sem reagir. No entanto, vai conquistando aos poucos sua família,com seu estilo autêntico e "sem-jeito", mas com um grande coração - inclusive o pai, o que vai deixando Jarrod cada vez mais enciumado e frustrado, enquanto treina pra colocar em prática sua vingança pessoal ( mistura de treinamento ninja com técnicas de guerra, as cenas em que ele se prepara para o "combate" estão entre as mais hilárias do filme).
O desfecho de seu encontro com o "inimigo" é surpreendente. E a presença de Lily acaba sendo fundamantal na reconciliação de Jarrod com o pai e com o próprio passado.
Ah, e o final é fofo, fofo...
Em tempo: o nome do filme em Português é Loucos por Nada (pergunta que não quer calar: quem inventa esses diabos desses títulos em Português???)
É um tratado sobre a estranheza sem no entanto ostentar a pretensão de sê-lo; a essência do enredo é de uma simplicidade incrível, até mesmo banal: moça conhece rapaz, se apaixona, começam a namorar, a relação é posta à prova e ela consegue enfim mostrar que seu amor está acima de qualquer obstáculo. Poderia ser a sinopse de uma comédia romântica bem ao estilo hollywoodiano. E Eagle vs Shark até pode ser chamado de comédia romântica: o filme é muito engraçado, mesclando momentos de total escracho com outros onde o humor é sutilmente implícito, e é acima de tudo uma história de amor. Há, no entanto, muito mais que isso em Eagle vs Shark. O melhor da história não é o que está explícito, e sim as mensagens mais ou menos escondidas nas entrelinhas. São elas que verdadeiramente emocionam e produzem questionamentos. Para percebê-las há que se ter apenas o mínimo de sutileza.
A protagonista é Lily, típica "looser", desgrenhada,solitária,tímida e encolhida, que mora com um irmão tão abobalhado quanto ela e tem um empreguinho maçante numa lanchonete fast-food onde tenta inutilmente "se enturmar" com a colega de trabalho popular. Ela se apaixona por Jarrod, sujeito extremamente nerd, arrogante e com tendência a fantasias de auto-exaltação, que trabalha numa loja de brinquedos/locadora. É claro que todo o seu egocentrismo esconde uma tremenda insegurança, que vai se revelando quando ele convence Lily a viajar para sua pequena cidade natal, com o intuito de colocar em prática um plano de vingança contra o valentão da escola, que batia nele quando era criança.
A partir daí, o castelo de cartas de Jarrod vai aos poucos desabando, e todas a suas neuroses vêm à tona enquanto nos confrontamos com sua família e seu passado, como o fantasma do irmão morto, por exemplo, que era campeão em tudo e idolatrado pelo pai, que praticamente ignora sua existência. Fica claro o que já era presumível: por trás de toda a arrogância, Jarrod é um sujeito profundamente frustrado, que apenas finje se considerar o último biscoito do pacote.
Lily, por outra lado, aceita as chatices mal-criadas de Jarrod sem reagir. No entanto, vai conquistando aos poucos sua família,com seu estilo autêntico e "sem-jeito", mas com um grande coração - inclusive o pai, o que vai deixando Jarrod cada vez mais enciumado e frustrado, enquanto treina pra colocar em prática sua vingança pessoal ( mistura de treinamento ninja com técnicas de guerra, as cenas em que ele se prepara para o "combate" estão entre as mais hilárias do filme).
O desfecho de seu encontro com o "inimigo" é surpreendente. E a presença de Lily acaba sendo fundamantal na reconciliação de Jarrod com o pai e com o próprio passado.
Ah, e o final é fofo, fofo...
Em tempo: o nome do filme em Português é Loucos por Nada (pergunta que não quer calar: quem inventa esses diabos desses títulos em Português???)
sábado, 24 de maio de 2008
Crônicas de Chaotic City - "Essa cidade me atravessa..."
Ponho os pés na rua e constato: típica manhã ensolarada de sábado. Luz estourada obrigando minhas pupilas preguiçosas a encolherem-se meio a contragosto por detrás dos indispensáveis óculos de lente escura. Vou pro trabalho.
Em manhãs de sábado como esta posso testemunhar um dos mais curiosos fenômenos inerentes à vida dos habitantes de Chaotic City: hordas de pessoas sumariamente (mal) vestidas amontoam-se em ônibus velhos, quase sempre dirigidos por sujeitos neuróticos, rumo à longas faixas de areia onde terão de disputar com outros milhões de indivíduos espaço ao menos suficiente para acomodar seus glúteos sobre a areia escaldante. Pode-se caminhar quilômetros em sinuoso e nada prático zigue-zague por entre cadeiras e mulheres deitadas - que paradoxalmente não admitem ser atingidas por alguns míseros grãozinhos inevitavelmente lançados pelas passadas dos transeuntes, embora estejam estendidas em meio à toneladas de areia - sem encontrar uma sombrinha sequer, a não ser a pífia e insuficiente provocada pelos guarda-sóis. Não fosse a presença do mar logo ali, poderia-se pensar que o Saara é aqui... Embora o curto caminho para chegar ao mar esteja tomado por centenas de sombrinhas, cadeiras, isopores e piscinas de criança, provavelmente já é um consolo saber que ele está ali, mesmo que quase invisível por detrás de tantos obstáculos.
Tais considerações povoam minha mente enquanto me espremo num canto do 433 lotado em pleno sábado onze e meia da manhã. Bom, nada de novo, a lotação é apenas um dos inúmeros aspectos da sinistra sina de milhões de seres obrigados a fazer uso do transporte público em Chaotic City.
O que me faz pensar na estranha relação que tenho com a cidade. Que eu poderia até chamar de simbiótica - se fosse saudável. A cidade me enlouquece, me estupra, me irrita, me deprime. Eu a hostilizo sem um pingo de compaixão.
Sinto-me, entretanto, intrínsicamente, organicamente ligada a ela, como se o fluxo caótico dos carros nas ruas desorganizadas fosse o próprio reflexo do pulsar incessante do sangue correndo em minhas vias, ops!, veias. O atrativo existe, embora intangível. Deve haver uma espécie de parentesco ancestral, um ponto invisível onde nossos DNAs, o traduzido e o intradutível, se fundem numa miscigenação incestuosa. A cidade me afugenta mas eu não fujo. Às vezes, em arroubos quase naïf, chego a crer que posso enfrentá-la com explosões de indignação incontida ou tentativas inúteis de apelo à supostos resquícios de civilidade. A cidade apenas escarnece da minha ingenuidade, com promíscuos tapinhas nas costas...
Após deixar pra trás a praia do Flamengo, o ônibus pega enfim o aterro. Ainda bem que existe o aterro, privilégio poder passar por ele, admirando os contornos do Pão de Açúcar.
Minha relação com a Chaotic City é completamente sadomasoquista.
Em manhãs de sábado como esta posso testemunhar um dos mais curiosos fenômenos inerentes à vida dos habitantes de Chaotic City: hordas de pessoas sumariamente (mal) vestidas amontoam-se em ônibus velhos, quase sempre dirigidos por sujeitos neuróticos, rumo à longas faixas de areia onde terão de disputar com outros milhões de indivíduos espaço ao menos suficiente para acomodar seus glúteos sobre a areia escaldante. Pode-se caminhar quilômetros em sinuoso e nada prático zigue-zague por entre cadeiras e mulheres deitadas - que paradoxalmente não admitem ser atingidas por alguns míseros grãozinhos inevitavelmente lançados pelas passadas dos transeuntes, embora estejam estendidas em meio à toneladas de areia - sem encontrar uma sombrinha sequer, a não ser a pífia e insuficiente provocada pelos guarda-sóis. Não fosse a presença do mar logo ali, poderia-se pensar que o Saara é aqui... Embora o curto caminho para chegar ao mar esteja tomado por centenas de sombrinhas, cadeiras, isopores e piscinas de criança, provavelmente já é um consolo saber que ele está ali, mesmo que quase invisível por detrás de tantos obstáculos.
Tais considerações povoam minha mente enquanto me espremo num canto do 433 lotado em pleno sábado onze e meia da manhã. Bom, nada de novo, a lotação é apenas um dos inúmeros aspectos da sinistra sina de milhões de seres obrigados a fazer uso do transporte público em Chaotic City.
O que me faz pensar na estranha relação que tenho com a cidade. Que eu poderia até chamar de simbiótica - se fosse saudável. A cidade me enlouquece, me estupra, me irrita, me deprime. Eu a hostilizo sem um pingo de compaixão.
Sinto-me, entretanto, intrínsicamente, organicamente ligada a ela, como se o fluxo caótico dos carros nas ruas desorganizadas fosse o próprio reflexo do pulsar incessante do sangue correndo em minhas vias, ops!, veias. O atrativo existe, embora intangível. Deve haver uma espécie de parentesco ancestral, um ponto invisível onde nossos DNAs, o traduzido e o intradutível, se fundem numa miscigenação incestuosa. A cidade me afugenta mas eu não fujo. Às vezes, em arroubos quase naïf, chego a crer que posso enfrentá-la com explosões de indignação incontida ou tentativas inúteis de apelo à supostos resquícios de civilidade. A cidade apenas escarnece da minha ingenuidade, com promíscuos tapinhas nas costas...
Após deixar pra trás a praia do Flamengo, o ônibus pega enfim o aterro. Ainda bem que existe o aterro, privilégio poder passar por ele, admirando os contornos do Pão de Açúcar.
Minha relação com a Chaotic City é completamente sadomasoquista.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Muito Prazer... Sou A Dama Vagabunbda
A Dama Vagabunda:
Enfia o pé na jaca, sim!, mas de scarpin - e sem quebrar o salto # Não tem vergonha de sofrer por amor - tenta evitar o choro apenas para não borrar a maquiagem (quase sempre sem sucesso...) # Tem opinião própria, senso crítico e noção estética. E os expõe ao mundo, doa a quem doer # Tem uma compulsão crônica e inconsequente por se lançar em desventuras. Curte fossa ao som de Maysa sem vergonha de parecer clichê # Ama e odeia a humanidade com a mesma intensidade - tem compaixão pelas pessoas, odeia as injustiças, e as desigualdades a deixam indignada, mas acredita que a única solução para os males do mundo é a propagação de um vírus mortal que varra a espécie humana da face da Terra # É nostálgica e sente saudades de uma porção de momentos que sequer viveu - do Big Bang, da queda da Bastilha, dos happenings dadaítas, do maio de 68... # faz trocadilhos - inteligentes ou não... # Sente-se extremamente inspirada quando sofre por amor - desilusões amorosas estimulam cruelmente sua criatividade... # não tem o menor saco para indivíduos desprovidos de senso de humor, sem o qual, aliás, torna-se impossível suportar a chatice de existir e a caretice reinante nos dias de hoje # tem vícios, lícitos e ilícitos # tem boas maneiras e conhece as regras de etiqueta, especialmente para mandá-las pro espaço nas constantes situações em que perder a compostura se faz estritamente necessário. Se o barraco é inevitável... # brinda cerveja como se fosse champagne # bebe champagne como se fosse cerveja # detesta gente blasé (embora confesse, um pouco envergonhada, uma certa tendência masoquista a se sentir atraída por seres "inatingíveis") # experimenta momentos de beleza insuportável lendo, ouvindo música ou vendo um filme, e sente nessas horas a proximidade estranha da morte # encerra por aqui pois, embora ainda haja muito a ser dito sobre sua multifacetada personlidade, isso aqui não é uma sessão de análise!
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