sábado, 13 de junho de 2009

Para Ian, em algum lugar do tempo

Ao observar-te assim, adormecido, uma imensa ternura toma-me de assalto, uma ternura tão grande que é capaz de inebriar, de transbordar, de fazer sentir o peito apertar-se de súbito, e fazer emergir ao leito dos olhos furtivas lágrimas incontíveis. Incontidas, elas rolam, tornando turva a imagem do teu pequeno corpinho a ronronar, deitado de bruços, o lento movimento das costas acompahando o ritmo da tua respiração. Teus olhinhos, mesmo fechados, selados por fileiras de lânguidas, longilíneas pestanas, movem-se na velocidade de cada fragmento de sonhos, os quais vives intensamente enquanto tua mãe ternamente te observa.
Quase posso sentir tempo e espaço cristalizando-se pouco a pouco, em conivente esforço de eternizar a existência deste instante. Queria viver para sempre o instante de olhar-te adormecido.
Este sentimento – que me custa até mesmo chamar de amor, mas que de amor, por ora, chamarei, é algo que só as mães entendem. Só as mães conhecem este amor que pode ser ao mesmo tempo altruísta e egoísta, pois são capazes de sacrificar a vida pela integridade do filho, enquanto consideram-no, para sempre, um pedaço indissociável de sua própria alma.
Teu sono é velado por tua mãe, e também por toda a magia do universo.