quarta-feira, 13 de maio de 2020

GRITO




Às vezes escrevo porque quero GRITAR
GRITARGRITARGRITAGRITAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
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mas não consigo, não posso, me calo.
Há um grito, por exemplo, neste exato momento dentro de mim.
Enorme, gigantesco, colossal,
muito maior que do que a minha voz pode sonhar alcançar,
especialmente nestes tempos de nó na garganta que não logro desatar.
Este grito, que tem tantas formas, tantas cores, tantos timbres, tantos matizes...
Prisioneiro, testa a expansão dos limites do meu corpo.
Fisicamente este grito ocupa um espaço
que vai da cabeça até o baixo ventre
E os espreme em forma de dolorosas sensações
que não cessam nem sob o efeito de analgésicos.
Para além dos limites do meu corpo físico,
este grito me oprime de fora para dentro.
Me engole, me traga, me atomiza, me anula,
atravessa minha alma como uma flecha e a estilhaça.
E é aí, nos estilhaços daquilo que sobra, que vejo meu próprio reflexo:
confusa, estremecida, deformada, fragmentada.
Este grito é tão alto que não é passível de se materializar a não ser através do silêncio
E as palavras não dão conta do tamanho deste grito
Porque a angústia que ele carrega em si é ancestral ao advento da linguagem.
A angústia deste grito é imensa, profunda, abismal, imensurável.
E eu, no momento triste, pequena,
no momento acanhada e só
apenas silencio e sucumbo
à minha própria incapacidade de gritar.


#ADamaVagabunda #Carentena #MontanhaRussa


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