sexta-feira, 8 de maio de 2020

Dia XX da #carentena



Hoje vai ter malhação e violão. Eu acho. Devia ter, porque ontem o frio e a chuva não colaboraram, e eu tô tentando abandonar o antigo hábito de abandonar.

Nascida em BH mas crescida no Hell de Janeura, sou friorenta. 20 graus pra mim já é papo de casaco, cachecol e meia. Eu gosto, quando consigo me agasalhar a contento. Mas confesso que a ventania da madrugada anterior trouxe junto com ela sussurros e gemidos, como se um portal se abrisse entre dois mundos, e quem é de sensibilidade aflorada sentiu algo de estranho também, um desassossego.
Eu gosto de chuva, mas era bem melhor antes quando você olhava pras gotas escorrendo na vidraça (nossa, como eu sou gótica), cantarolava Garbage, pensava "que bom que não preciso sair de casa hoje" e ficava de molho com edredom, filminho e chá, talvez um "cobertor de orelha" - mas aí depende, é uma faca de "dois legumes" né mores, porque estar só é sempre melhor que estar mal acompanhada, mesmo que nossos coraçõezinhos carentes e românticos estejam sempre tentando nos convencer do contrário.

Agora estamos todos perdendo a sanidade dia após dia e tentando nos convencer da ideia de que de alguma forma vamos sair melhores disso tudo, porque talvez fazer o jogo do contente seja o último refúgio das nossas mentes exauridas pelo excesso do absurdo. Por outro lado, de repente Pollyanna - por mais que eu odeie ter que dizer isso - tenha razão e precisamos mesmo perder um pouco da velha sanidade e abrir uma brecha pra um raio de sol iluminar nossos sótãos esquecidos num limbo do espaço-tempo.

Mas eu consegui aproveitar esse mood de ontem pra terminar de ver o filme do Almodóvar, que nunca me decepciona em me fazer morrer de amor, aquela morte momentânea que te arrebata quando você se aproxima demais da beleza em si, como a breve cegueira que se sente ao tentar olhar diretamente para o sol.

Tô com medo já - the winter is coming! hahaha, mas eu tenho bastante agasalho (tenho nada, mas meu filho tem os melhores casacos e eu tenho o melhor filho) e vou investir numa garrafa de pinga boa pra espantar o frio honrando minha linhagem lá das Minas Gerais. E é tanto amigo dizendo que sou forte que tô quase acreditando em vocês, viu. Porque que eu sou foda eu já sei. Só preciso me lembrar disso todos os dias pela "manhã" (meio dia é a nova manhã).

Viver com ansiedade constante, que aumenta ou diminui ao ritmo de uma maré que mistura diferentes conjunturas em diferentes âmbitos da vida, não é fácil, mas a gente vai levando essa chama
Mesmo com o nada feito
Com a sala escura
Com um nó no peito.

Que a Dama Vagabunda, esse alter ego que criei pra me fazer lembrar do que eu sou, nunca teve medo de expor suas emoções e nem do julgamento dos covardes e das almas sebosas. Mas que ela também, ao longo desses anos, amadureceu o suficiente pra saber que se proteger, se cuidar e saber o momento da não-ação e de entregar o destino nas mãos do universo também é sabedoria que vem da ancestralidade cosmológica. Por mais duro que seja admitir que não temos controle sobre as situações, por mais duro que seja deixar simplesmente a vida seguir seu fluxo, o que tiver de ser, será. E que seja o melhor pra mim e pra cada um de vocês que eu amo às vezes mais do que harumaki de romeu e julieta (sim, isso existe e é tipo deus enroladinho e frito em imersão).



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