terça-feira, 31 de março de 2020

A MULHER NA VARANDA (OU REQUIEM PARA UMA ESTRELA)




Hoje eu vi uma mulher
Chorando na varanda.
Ela deitava no chão,
em posição fetal,
e se encolhia tanto, abraçando firme os joelhos,
como se quisesse guardar dentro de si.
Ela tentava recolher-se ao próprio útero
Refúgio da mãe terra
e ali se esconder para sempre.
Ela se contorcia, esforço inútil
em ocupar o menor espaço possível
num mundo onde talvez ela não queira mais viver.
Ela quer atomizar, reduzir-se ao quase nada
que agora habita o espaço
onde um dia batia o seu coração.
Olhando para a mulher chorando na varanda,
pensei em uma serpente
devorando o próprio rabo
Linda
Trágica
E letal.
Mas talvez ela fosse uma estrela
que deixou-se queimar toda
para enfim colapsar.
Uma mulher que já expandiu em supernova,
e num ato final foi-se embora
toda a luz e energia do seu corpo em implosão.
Eu chorei junto com essa mulher
em estado de entropia,
E as lágrimas no meu rosto
entraram em combustão.
Me encolhi e me enrolei
Colapsei e me guardei
dentro de mim.
Mergulhei no ventre escuro da mãe terra.
Porque essa mulher era eu
E eu, essa mulher, era ela.

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