quinta-feira, 22 de abril de 2010

O enfado mora ao lado



Eu podia falar de alguma coisa que eu gosto. Mas quer saber? Preciso com urgência falar de coisas que eu não gosto. E na lista bem longa de coisas que me irritam há um item capaz de me despertar especial desgosto: VIZINHOS. Vizinhos são uma verdadeira praga do mundo contemporâneo, e se você vive em um centro urbano é praticamente impossível se ver livre deles. Vizinho é que nem bactéria da flora intestinal: todo mundo tem. Num mundo ideal isso não seria motivo de dor-de-cabeça (às vezes literalmente). Mas como o ser humano é um bicho que ignora totalmente o fazer a sua parte em prol do coletivo, ter tantos seres "sem noção" morando tão próximos a você acaba sendo fonte de inúmeras aporrinhações.
Sou uma pessoa educada e cordial (na maior parte do tempo)e costumo cumprimentar meus vizinhos quando nos cruzamos nos corredores do prédio. É uma regrinha básica da boa convivência que não arranca pedaço de ninguém. Trocar meia dúzia de palavras sobre o tempo no elevador também é válido. O problema é quando o cara acha que um simples "boa noite" é um convite à uma conversa mais longa ou um pedido de amizade. Como aquele sujeito que não pode ouvir um "como vai?" que já responde logo "nada bem" e começa a passar todo o prontuário médico dos últimos meses enquanto você suspira e boceja de canto de boca. Não tenho a menor intenção de que uma relação de vizinhança vá alem do cumprimento respeitoso e da troca de pequenos favores cordiais, quando necessário. Não que seja impossível desenvolver uma amizade com alguém que vive no apartamento ao lado; quando acontece, pode ser ótimo. Mas amizade é algo que surge da identificação mútua. Amizade não se impôe.
Moro em uma área totalmente residencial. Comércio zero. Se vou fazer um bolo e percebo que não tem ovo, não há outro jeito a não ser apelar pra boa vontade do vizinho em me ceder uns dois ou três ovinhos. Só que isso acaba dando mais margem ainda pra vizinhos carentes e desocupados acharem que podem "forçar amizade". A grande maioria dos moradores do meu prédio é formada por senhoras que acredito não terem outra ocupação na vida a não ser a de fiscalizar - e muitas vezes se intrometer - na vida alheia. Na verdade nem sei se é a grande maioria, porque nunca fiz a menor questão de conhecer TODOS os moradores do meu prédio, mesmo sendo um prédio pequeno. Volta e meia vejo alguém com chave destrancando a portaria com ares de morador que eu nunca vi antes. Mas elas parecem ser maioria, mesmo que talvez não sejam, porque fazem questão de marcar presença. Tocam a campainha na minha casa às sete da manhã (ódio!), e nunca é uma emergência maior do que "minha toalha caiu na sua varanda". Aproveitam o momento de pedir uma xícara de açúcar pra entrar no meu apartamento, me alugar e bisbilhotar. Ligam pro meu trabalho (!) no momento em que estou mais ocupada pra me dizer pérolas do tipo: "Estou procupada porque o seu gato está miando". Minha resposta: "ok, continue atenta, quando ele começar a latir você me liga novamente".
Fazem fofoca umas das outras e de todos. Tem delírios de perseguição, morrem de medo de assalto trancando tudo a dez chaves e cinco cadeados. Pior: falam entre si aos berros pela janela! Isso é uma coisa que me provoca irritação profunda. Custa muito pegar o telefone e ligar pra fulana do andar de cima??? Precisa colocar a cara na janela e gritar "Bereniiiiiiiiiice! Fiz um broa de milho que tá divina, manda a Mariazinha vir aqui pegar!", daí a Berenice responde, a outra contesta, e pronto, instala-se um diálogo berrado e lá se foi meu sono às seis e meia da manhã, pra nunca mais voltar. Quando eu ouço música, sempre num volume razoável e num horário idem, lá vem a patrulha da reclamação. Gritar alto às seis da manhã pode, música em volume médio às duas da tarde, não.
Aliás, a questão musical é um caso à parte, que daria uma outra crônica inteira. Tudo bem que gosto é que nem bunda, cada um tem a sua, mas as bizarrices vão do evangélico ao último sucesso da Lady Gaga, passando por sertanejo, axé, enfim, só coisa fina.
Mas a coroa eterna de vizinha mala mor certamente é da Dona Odete. Que morreu há um ano, tornando meus momentos em casa um pouco mais tranquilos. E juro que eu não tive nada a ver com isso, embora tenha tido vontade mais de uma vez de levar um bolo recheado de chumbinho pra ela, ou talvez convidá-la pra um chazinho de cicuta. Quando eu enchia a piscina do meu filho no verão, ela corria a interfonar lá pra casa aos berros de "tá desperdiçando ááááááguaaaaa!" e quando eu perguntava "quem tá falando???" ela batia o interfone. Nunca veio falar isso na minha cara. Uma vez eu estava tomando sol na varanda, com meu filho brincando na piscina, e ela chegou ao cúmulo de pegar o interfone e gritar no meu ouvido: "não pooooode ficar na varanda em trajes inadequadooooooos!" Meu erro foi tomar sol de biquíni. Todo mundo sabe que o traje adequado pra tomar sol é uma burka, e eu querendo transgredir as regras usando biquíni. Tsc, tsc.
Enfim, são inúmeras as encheções de saco. Vou parando por aqui pra não encher também o saco de quem lê. Mas quem não tiver pelo menos uma estória de vizinho mala pra contar é porque provavelmente é um eremita que vive nas montanhas longe da civilização.

(na foto, Clara Bow com cara de enfadada)

3 comentários:

INTENSIDADE DE UM MINUTO disse...

sempre tem um mala nas nossa vida...
Poderiamos correr, mas sempre tem um pra se encachar nessa função...
bejuxus!!!!
xD

marcio leandro disse...

essa história de chumbinho e vizinhos me lembrou do rafael. o danado me ligou hoje. adivinha pra quê? pra reclamar dos franceses...

Teka disse...

Aqui no meu prédio é um saco, cheio de velhos !!!
Tenho uma filha de 2 anos e algumas chatas reclamam q ela chora muito !!!
Da vontade de perguntar: " Seus filhos não choravam não, saco !!!
Se encontrar c/ elas, vou me irritar e acabar perguntando :P