Eu podia falar de alguma coisa que eu gosto. Mas quer saber? Preciso com urgência falar de coisas que eu não gosto. E na lista bem longa de coisas que me irritam há um item capaz de me despertar especial desgosto: VIZINHOS. Vizinhos são uma verdadeira praga do mundo contemporâneo, e se você vive em um centro urbano é praticamente impossível se ver livre deles. Vizinho é que nem bactéria da flora intestinal: todo mundo tem. Num mundo ideal isso não seria motivo de dor-de-cabeça (às vezes literalmente). Mas como o ser humano é um bicho que ignora totalmente o fazer a sua parte em prol do coletivo, ter tantos seres "sem noção" morando tão próximos a você acaba sendo fonte de inúmeras aporrinhações.
Sou uma pessoa educada e cordial (na maior parte do tempo)e costumo cumprimentar meus vizinhos quando nos cruzamos nos corredores do prédio. É uma regrinha básica da boa convivência que não arranca pedaço de ninguém. Trocar meia dúzia de palavras sobre o tempo no elevador também é válido. O problema é quando o cara acha que um simples "boa noite" é um convite à uma conversa mais longa ou um pedido de amizade. Como aquele sujeito que não pode ouvir um "como vai?" que já responde logo "nada bem" e começa a passar todo o prontuário médico dos últimos meses enquanto você suspira e boceja de canto de boca. Não tenho a menor intenção de que uma relação de vizinhança vá alem do cumprimento respeitoso e da troca de pequenos favores cordiais, quando necessário. Não que seja impossível desenvolver uma amizade com alguém que vive no apartamento ao lado; quando acontece, pode ser ótimo. Mas amizade é algo que surge da identificação mútua. Amizade não se impôe.
Moro em uma área totalmente residencial. Comércio zero. Se vou fazer um bolo e percebo que não tem ovo, não há outro jeito a não ser apelar pra boa vontade do vizinho em me ceder uns dois ou três ovinhos. Só que isso acaba dando mais margem ainda pra vizinhos carentes e desocupados acharem que podem "forçar amizade". A grande maioria dos moradores do meu prédio é formada por senhoras que acredito não terem outra ocupação na vida a não ser a de fiscalizar - e muitas vezes se intrometer - na vida alheia. Na verdade nem sei se é a grande maioria, porque nunca fiz a menor questão de conhecer TODOS os moradores do meu prédio, mesmo sendo um prédio pequeno. Volta e meia vejo alguém com chave destrancando a portaria com ares de morador que eu nunca vi antes. Mas elas parecem ser maioria, mesmo que talvez não sejam, porque fazem questão de marcar presença. Tocam a campainha na minha casa às sete da manhã (ódio!), e nunca é uma emergência maior do que "minha toalha caiu na sua varanda". Aproveitam o momento de pedir uma xícara de açúcar pra entrar no meu apartamento, me alugar e bisbilhotar. Ligam pro meu trabalho (!) no momento em que estou mais ocupada pra me dizer pérolas do tipo: "Estou procupada porque o seu gato está miando". Minha resposta: "ok, continue atenta, quando ele começar a latir você me liga novamente".
Fazem fofoca umas das outras e de todos. Tem delírios de perseguição, morrem de medo de assalto trancando tudo a dez chaves e cinco cadeados. Pior: falam entre si aos berros pela janela! Isso é uma coisa que me provoca irritação profunda. Custa muito pegar o telefone e ligar pra fulana do andar de cima??? Precisa colocar a cara na janela e gritar "Bereniiiiiiiiiice! Fiz um broa de milho que tá divina, manda a Mariazinha vir aqui pegar!", daí a Berenice responde, a outra contesta, e pronto, instala-se um diálogo berrado e lá se foi meu sono às seis e meia da manhã, pra nunca mais voltar. Quando eu ouço música, sempre num volume razoável e num horário idem, lá vem a patrulha da reclamação. Gritar alto às seis da manhã pode, música em volume médio às duas da tarde, não.
Aliás, a questão musical é um caso à parte, que daria uma outra crônica inteira. Tudo bem que gosto é que nem bunda, cada um tem a sua, mas as bizarrices vão do evangélico ao último sucesso da Lady Gaga, passando por sertanejo, axé, enfim, só coisa fina.
Mas a coroa eterna de vizinha mala mor certamente é da Dona Odete. Que morreu há um ano, tornando meus momentos em casa um pouco mais tranquilos. E juro que eu não tive nada a ver com isso, embora tenha tido vontade mais de uma vez de levar um bolo recheado de chumbinho pra ela, ou talvez convidá-la pra um chazinho de cicuta. Quando eu enchia a piscina do meu filho no verão, ela corria a interfonar lá pra casa aos berros de "tá desperdiçando ááááááguaaaaa!" e quando eu perguntava "quem tá falando???" ela batia o interfone. Nunca veio falar isso na minha cara. Uma vez eu estava tomando sol na varanda, com meu filho brincando na piscina, e ela chegou ao cúmulo de pegar o interfone e gritar no meu ouvido: "não pooooode ficar na varanda em trajes inadequadooooooos!" Meu erro foi tomar sol de biquíni. Todo mundo sabe que o traje adequado pra tomar sol é uma burka, e eu querendo transgredir as regras usando biquíni. Tsc, tsc.
Enfim, são inúmeras as encheções de saco. Vou parando por aqui pra não encher também o saco de quem lê. Mas quem não tiver pelo menos uma estória de vizinho mala pra contar é porque provavelmente é um eremita que vive nas montanhas longe da civilização.
(na foto, Clara Bow com cara de enfadada)
3 comentários:
sempre tem um mala nas nossa vida...
Poderiamos correr, mas sempre tem um pra se encachar nessa função...
bejuxus!!!!
xD
essa história de chumbinho e vizinhos me lembrou do rafael. o danado me ligou hoje. adivinha pra quê? pra reclamar dos franceses...
Aqui no meu prédio é um saco, cheio de velhos !!!
Tenho uma filha de 2 anos e algumas chatas reclamam q ela chora muito !!!
Da vontade de perguntar: " Seus filhos não choravam não, saco !!!
Se encontrar c/ elas, vou me irritar e acabar perguntando :P
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