Eagle vs Shark é um filme que não tem uma estória com enredo clássico, cheio de reviravoltas e surpresas, com picos de emoção e suspense, etc, etc. Não tem uma estória empolgante... é um filme sobre pessoas estranhas, com relações idem, que levam uma vida comum (a vida comum É estranha!). Aliás, é da Nova Zelândia que, cá entre nós, é um lugar deveras estranho, terra natal do ornitorrinco e do demônio da Tasmânia...
É um tratado sobre a estranheza sem no entanto ostentar a pretensão de sê-lo; a essência do enredo é de uma simplicidade incrível, até mesmo banal: moça conhece rapaz, se apaixona, começam a namorar, a relação é posta à prova e ela consegue enfim mostrar que seu amor está acima de qualquer obstáculo. Poderia ser a sinopse de uma comédia romântica bem ao estilo hollywoodiano. E Eagle vs Shark até pode ser chamado de comédia romântica: o filme é muito engraçado, mesclando momentos de total escracho com outros onde o humor é sutilmente implícito, e é acima de tudo uma história de amor. Há, no entanto, muito mais que isso em Eagle vs Shark. O melhor da história não é o que está explícito, e sim as mensagens mais ou menos escondidas nas entrelinhas. São elas que verdadeiramente emocionam e produzem questionamentos. Para percebê-las há que se ter apenas o mínimo de sutileza.
A protagonista é Lily, típica "looser", desgrenhada,solitária,tímida e encolhida, que mora com um irmão tão abobalhado quanto ela e tem um empreguinho maçante numa lanchonete fast-food onde tenta inutilmente "se enturmar" com a colega de trabalho popular. Ela se apaixona por Jarrod, sujeito extremamente nerd, arrogante e com tendência a fantasias de auto-exaltação, que trabalha numa loja de brinquedos/locadora. É claro que todo o seu egocentrismo esconde uma tremenda insegurança, que vai se revelando quando ele convence Lily a viajar para sua pequena cidade natal, com o intuito de colocar em prática um plano de vingança contra o valentão da escola, que batia nele quando era criança.
A partir daí, o castelo de cartas de Jarrod vai aos poucos desabando, e todas a suas neuroses vêm à tona enquanto nos confrontamos com sua família e seu passado, como o fantasma do irmão morto, por exemplo, que era campeão em tudo e idolatrado pelo pai, que praticamente ignora sua existência. Fica claro o que já era presumível: por trás de toda a arrogância, Jarrod é um sujeito profundamente frustrado, que apenas finje se considerar o último biscoito do pacote.
Lily, por outra lado, aceita as chatices mal-criadas de Jarrod sem reagir. No entanto, vai conquistando aos poucos sua família,com seu estilo autêntico e "sem-jeito", mas com um grande coração - inclusive o pai, o que vai deixando Jarrod cada vez mais enciumado e frustrado, enquanto treina pra colocar em prática sua vingança pessoal ( mistura de treinamento ninja com técnicas de guerra, as cenas em que ele se prepara para o "combate" estão entre as mais hilárias do filme).
O desfecho de seu encontro com o "inimigo" é surpreendente. E a presença de Lily acaba sendo fundamantal na reconciliação de Jarrod com o pai e com o próprio passado.
Ah, e o final é fofo, fofo...
Em tempo: o nome do filme em Português é Loucos por Nada (pergunta que não quer calar: quem inventa esses diabos desses títulos em Português???)
sábado, 31 de maio de 2008
sábado, 24 de maio de 2008
Crônicas de Chaotic City - "Essa cidade me atravessa..."
Ponho os pés na rua e constato: típica manhã ensolarada de sábado. Luz estourada obrigando minhas pupilas preguiçosas a encolherem-se meio a contragosto por detrás dos indispensáveis óculos de lente escura. Vou pro trabalho.
Em manhãs de sábado como esta posso testemunhar um dos mais curiosos fenômenos inerentes à vida dos habitantes de Chaotic City: hordas de pessoas sumariamente (mal) vestidas amontoam-se em ônibus velhos, quase sempre dirigidos por sujeitos neuróticos, rumo à longas faixas de areia onde terão de disputar com outros milhões de indivíduos espaço ao menos suficiente para acomodar seus glúteos sobre a areia escaldante. Pode-se caminhar quilômetros em sinuoso e nada prático zigue-zague por entre cadeiras e mulheres deitadas - que paradoxalmente não admitem ser atingidas por alguns míseros grãozinhos inevitavelmente lançados pelas passadas dos transeuntes, embora estejam estendidas em meio à toneladas de areia - sem encontrar uma sombrinha sequer, a não ser a pífia e insuficiente provocada pelos guarda-sóis. Não fosse a presença do mar logo ali, poderia-se pensar que o Saara é aqui... Embora o curto caminho para chegar ao mar esteja tomado por centenas de sombrinhas, cadeiras, isopores e piscinas de criança, provavelmente já é um consolo saber que ele está ali, mesmo que quase invisível por detrás de tantos obstáculos.
Tais considerações povoam minha mente enquanto me espremo num canto do 433 lotado em pleno sábado onze e meia da manhã. Bom, nada de novo, a lotação é apenas um dos inúmeros aspectos da sinistra sina de milhões de seres obrigados a fazer uso do transporte público em Chaotic City.
O que me faz pensar na estranha relação que tenho com a cidade. Que eu poderia até chamar de simbiótica - se fosse saudável. A cidade me enlouquece, me estupra, me irrita, me deprime. Eu a hostilizo sem um pingo de compaixão.
Sinto-me, entretanto, intrínsicamente, organicamente ligada a ela, como se o fluxo caótico dos carros nas ruas desorganizadas fosse o próprio reflexo do pulsar incessante do sangue correndo em minhas vias, ops!, veias. O atrativo existe, embora intangível. Deve haver uma espécie de parentesco ancestral, um ponto invisível onde nossos DNAs, o traduzido e o intradutível, se fundem numa miscigenação incestuosa. A cidade me afugenta mas eu não fujo. Às vezes, em arroubos quase naïf, chego a crer que posso enfrentá-la com explosões de indignação incontida ou tentativas inúteis de apelo à supostos resquícios de civilidade. A cidade apenas escarnece da minha ingenuidade, com promíscuos tapinhas nas costas...
Após deixar pra trás a praia do Flamengo, o ônibus pega enfim o aterro. Ainda bem que existe o aterro, privilégio poder passar por ele, admirando os contornos do Pão de Açúcar.
Minha relação com a Chaotic City é completamente sadomasoquista.
Em manhãs de sábado como esta posso testemunhar um dos mais curiosos fenômenos inerentes à vida dos habitantes de Chaotic City: hordas de pessoas sumariamente (mal) vestidas amontoam-se em ônibus velhos, quase sempre dirigidos por sujeitos neuróticos, rumo à longas faixas de areia onde terão de disputar com outros milhões de indivíduos espaço ao menos suficiente para acomodar seus glúteos sobre a areia escaldante. Pode-se caminhar quilômetros em sinuoso e nada prático zigue-zague por entre cadeiras e mulheres deitadas - que paradoxalmente não admitem ser atingidas por alguns míseros grãozinhos inevitavelmente lançados pelas passadas dos transeuntes, embora estejam estendidas em meio à toneladas de areia - sem encontrar uma sombrinha sequer, a não ser a pífia e insuficiente provocada pelos guarda-sóis. Não fosse a presença do mar logo ali, poderia-se pensar que o Saara é aqui... Embora o curto caminho para chegar ao mar esteja tomado por centenas de sombrinhas, cadeiras, isopores e piscinas de criança, provavelmente já é um consolo saber que ele está ali, mesmo que quase invisível por detrás de tantos obstáculos.
Tais considerações povoam minha mente enquanto me espremo num canto do 433 lotado em pleno sábado onze e meia da manhã. Bom, nada de novo, a lotação é apenas um dos inúmeros aspectos da sinistra sina de milhões de seres obrigados a fazer uso do transporte público em Chaotic City.
O que me faz pensar na estranha relação que tenho com a cidade. Que eu poderia até chamar de simbiótica - se fosse saudável. A cidade me enlouquece, me estupra, me irrita, me deprime. Eu a hostilizo sem um pingo de compaixão.
Sinto-me, entretanto, intrínsicamente, organicamente ligada a ela, como se o fluxo caótico dos carros nas ruas desorganizadas fosse o próprio reflexo do pulsar incessante do sangue correndo em minhas vias, ops!, veias. O atrativo existe, embora intangível. Deve haver uma espécie de parentesco ancestral, um ponto invisível onde nossos DNAs, o traduzido e o intradutível, se fundem numa miscigenação incestuosa. A cidade me afugenta mas eu não fujo. Às vezes, em arroubos quase naïf, chego a crer que posso enfrentá-la com explosões de indignação incontida ou tentativas inúteis de apelo à supostos resquícios de civilidade. A cidade apenas escarnece da minha ingenuidade, com promíscuos tapinhas nas costas...
Após deixar pra trás a praia do Flamengo, o ônibus pega enfim o aterro. Ainda bem que existe o aterro, privilégio poder passar por ele, admirando os contornos do Pão de Açúcar.
Minha relação com a Chaotic City é completamente sadomasoquista.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Muito Prazer... Sou A Dama Vagabunbda
A Dama Vagabunda:
Enfia o pé na jaca, sim!, mas de scarpin - e sem quebrar o salto # Não tem vergonha de sofrer por amor - tenta evitar o choro apenas para não borrar a maquiagem (quase sempre sem sucesso...) # Tem opinião própria, senso crítico e noção estética. E os expõe ao mundo, doa a quem doer # Tem uma compulsão crônica e inconsequente por se lançar em desventuras. Curte fossa ao som de Maysa sem vergonha de parecer clichê # Ama e odeia a humanidade com a mesma intensidade - tem compaixão pelas pessoas, odeia as injustiças, e as desigualdades a deixam indignada, mas acredita que a única solução para os males do mundo é a propagação de um vírus mortal que varra a espécie humana da face da Terra # É nostálgica e sente saudades de uma porção de momentos que sequer viveu - do Big Bang, da queda da Bastilha, dos happenings dadaítas, do maio de 68... # faz trocadilhos - inteligentes ou não... # Sente-se extremamente inspirada quando sofre por amor - desilusões amorosas estimulam cruelmente sua criatividade... # não tem o menor saco para indivíduos desprovidos de senso de humor, sem o qual, aliás, torna-se impossível suportar a chatice de existir e a caretice reinante nos dias de hoje # tem vícios, lícitos e ilícitos # tem boas maneiras e conhece as regras de etiqueta, especialmente para mandá-las pro espaço nas constantes situações em que perder a compostura se faz estritamente necessário. Se o barraco é inevitável... # brinda cerveja como se fosse champagne # bebe champagne como se fosse cerveja # detesta gente blasé (embora confesse, um pouco envergonhada, uma certa tendência masoquista a se sentir atraída por seres "inatingíveis") # experimenta momentos de beleza insuportável lendo, ouvindo música ou vendo um filme, e sente nessas horas a proximidade estranha da morte # encerra por aqui pois, embora ainda haja muito a ser dito sobre sua multifacetada personlidade, isso aqui não é uma sessão de análise!
Assinar:
Postagens (Atom)